Brasil - A beira do caos por seu vício em petróleo


Cidades com suas economias paralisadas, caminhões parados nas estradas em protesto pela alta do combustível e preço do frete, transporte público deixando de funcionar, milhares de trabalhadores sem ter como se deslocar para seus empregos e residências, comércio cerrando as portas, falta de alimentos e medicamentos, carros particulares abandonados por pane seca, aeroportos reduzindo os voos, postos de abastecimento fechados e outros adulterando combustível e revendendo a preços exorbitantes… esse é o cenário de apenas 4 dias de greve dos caminhoneiros.
Enfim, o caos tomando conta do país hora após hora, numa demonstração da inércia de um governo central permeado por escândalos diários de corrupção, letárgico, aparteado da sociedade e, acima de tudo, completamente desacreditado. Nesta rota caótica, a tributação exageradíssima dos Estados sobre a principal fonte de energia que movimenta a economia do Brasil, o petróleo.
O Brasil se tornou um país viciado e totalmente dependente do combustível fóssil. Desde a industrialização do país e a introdução da política de rodovias pela chegada das montadoras, há mais de 60 anos, nunca se teve um projeto de país que contemplasse outra modalidade de transporte.
A escolha de um modelo praticamente único para movimentar a economia brasileira é tão frágil como poluente. E se mostra quanto é nociva à saúde do país, seja física ou econômica. Desde janeiro deste ano o governo autorizou o aumento de 50% nos preços dos combustíveis e para salvar os lucros dos usineiros ainda aumentou a taxa de álcool na gasolina.
A composição do preço final dos combustíveis vê-se a voracidade dos governantes brasileiros. O preço final é formado por 28% realização da Petrobras, incluindo custos e lucro, 29% impostos estaduais (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS), 16% impostos da União (Cide, PIS/Pasep e Cofins), 13% do etanol adicionado à gasolina e 14% se refere à distribuição e revenda.
No caso do diesel, a Petrobras fica com cerca de 49% do total que o consumidor paga por litro, 15% refere-se à fatia de distribuição e revenda, 16% ICMS, 14% Cide, PIS/Pasep e Cofins e 6% custo do biodiesel (cada litro de diesel recebe adição de 8% de biodiesel).
 A mesma politica nacional de combustíveis que não conseguiu transformar o biocombustível em uma fonte segurança e barata para a frota nacional. Só serviu para saciar a sede de lucro de usineiros, que antes produziam basicamente álcool e açúcar.
O projeto do antigo CTA ( Centro Técnico da Aeronáutica) foi totalmente desarticulado para evitar que evoluísse para algo melhor, com a substituição do etanol pelo metanol, como ocorreu nos Estados Unidos – embora lá seja proibido seu uso por interferência direta das companhias petrolíferas. Nem mesmo o ônibus movido a gás natural, dos anos 80, prosperou.
O vício brasileiro, assim como o norte americano, foi alimentado pela indústria automobilística e pelas empresas de petróleo, inclusive pela Petrobras, no desejo de se tornar não só exportadora, mas de suprir as necessidades de petróleo do país.
Hoje o Brasil comemora o reaquecimento da indústria automobilística, embora em nenhuma das fábricas, todas multinacionais, existe um projeto nacional de veículo elétrico. São 43,4 milhões de unidades automotivas, consumindo petrocombustível circulantes em todo o país, numa relação entre a população residente e a frota de 4,8 habitantes por veículo, como em 2017. Um índice que há 10 anos era de um veículo para cada grupo de 7,3 pessoas.
Enquanto a Europa anuncia que em 2030 sua frota de veículos será totalmente elétrica, no Brasil as montadoras disputam o mercado com o lançamento de mais 12 minivans, um projeto de veículo tão ultrapassado que foi abandonado em grande parte dos países que os produziam, além de caros esses carros são grandes e pouco econômicos. Mesmo que as pesquisas mostrem que a família brasileira muito menor e sua economia urbana cada vez mais enfraquecida.
De joelhos, como um viciado em crise de abstinência, o país implora por um litro de gasolina ou diesel. Enquanto nos palácios, as autoridades palacianas ignoram o tamanho do problema e tentam barganhar politicamente com a desgraça que eles mesmos criaram. 

Fonte: Envolverde

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