Desigualdades Sociais e Perdas Ambientais


O relatório Working for the Few (Trabalhando para Poucos), emitido pela ONG Internacional Oxfam (Oxford Committee for Famine Relief – Comitê de Oxford de Combate à Fome – uma organização de 13 companhias) divulgado em janeiro de 2014, estima que as 85 pessoas mais ricas do planeta (com patrimônio de US$ 1,7 trilhão) ganham o equivalente às 3,5 bilhões mais pobres – metade exata da população mundial.

O referido relatório ainda afirma que a riqueza do 1% das pessoas mais ricas do mundo (70 milhões de indivíduos) equivale a um total de US$ 110 trilhões, 65 vezes a riqueza total da metade mais pobre da população mundial.

A Oxfam observou em seu relatório que, nos últimos 25 anos, a riqueza ficou cada vez mais concentrada nas mãos de poucos. Corroborando essas informações, de acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg, o mexicano Carlos Slim, dono de negócios no ramo de telecomunicações em 18 países, com uma fortuna avaliada em US$ 78,4 bilhões, é o maior bilionário do planeta. Depois dele, vem o cofundador da Microsoft, o norte-americano Bill Gates, com fortuna de US$ 65,8 bilhões, seguido pelo espanhol Amâncio Ortega, fundador do grupo têxtil Inditex, dono da marca Zara, com US$ 58,6 bilhões. A soma dessas três maiores fortunas mundiais atinge US$ 202,8 bilhões.

De um lado, rios de dinheiro; do outro, um oceano de tristeza e miséria evidenciada pela fome e subnutrição que atinge, segundo dados da FAO (Fundo para a Agricultura e Alimentação), 1 bilhão de pessoas no mundo.

Os que todos os dias têm estômagos vazios e bocas esfaimadas são 14% da população mundial – um entre seis habitantes. O drama da fome no mundo é tão intenso que dizima uma criança com menos de cinco anos de idade a cada minuto.

De um lado, o crescimento da economia faz alavancar mais ainda a fortuna de uns poucos; do outro, esse mesmo crescimento, conseguido mediante a exaustão dos recursos naturais, dilapida o patrimônio natural.

Em 1950, a produção mundial era de US$ 5 trilhões. Cinquenta anos depois, já era de US$ 50 trilhões. De 2000 para cá, o PIB mundial cresceu em mais US$ 25 trilhões.

Atualmente, apenas 20% da população mais rica do mundo utilizam ¾ dos recursos naturais. Os Estados Unidos sozinhos, com uma população de 315 milhões de habitantes “engolem” 40% de todos os recursos naturais disponíveis no planeta.

Pelo menos 1/3 da população mundial vegeta nos limites de sobrevivência: estão longe do acesso à água potável, saneamento, alimentação básica e serviços essenciais como educação e saúde.

O crescimento da economia, além de solidificar a fortuna de uns poucos, arrebentou com o patrimônio ambiental. Não por acaso, 60% dos principais serviços ecossistêmicos estão degradados, foram expostos à espoliação por parte da atividade econômica produtiva nos últimos 60 anos.

Das 17 reservas pesqueiras conhecidas, 11 delas possuem taxas de retirada maior do que a capacidade de reposição. Das terras firmes conhecidas do mundo, 4 bilhões de hectares encontram-se esgotados. Por ano, perde-se mais de 7 milhões de hectares. São 20 mil hectares por dia, o que equivale a uma superfície diária que corresponde a duas vezes o tamanho de Paris.

Nada menos que 20% dos recifes de corais do planeta foram destruídos. Nas últimas três décadas, foram perdidas 35% das áreas de manguezais. Simplesmente, 75% dos rios e lagos na China estão contaminados. Das 20 cidades mais poluídas do mundo, 16 delas estão na China. E a China – como é de conhecimento de todos – é a economia que mais cresceu nos últimos 15 anos.

Qual é a lógica produtiva que está por trás disso tudo? Lamentavelmente, é uma só: faz-se necessário consumir cada vez mais, para isso, deve-se produzir cada vez mais.

A questão é que essa produção cada vez maior e mais alucinante explora acintosamente os recursos da natureza, uma vez que tudo o que se produz emana da natureza. Quanto maior a exploração, maior a escassez de recursos, maior a poluição. Isso é a degeneração dos ecossistemas; é isso que faz superaquecer o planeta, provocando mudanças climáticas.

Para atender a esse consumo exagerado, a produção hoje já está usando um planeta e mais 40%. Ou seja, o planeta está sendo estressado em 40%. O nome disso é overshoot.



Fonte: Marcus Eduardo de Oliveira - Economista 

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