Insustentabilidade dos padrões de produção e consumo


O desenvolvimento sustentável é um dos princípios orientadores da Política Nacional de Resíduos Sólidos, art. 6º IV. O princípio está também na base da Agenda 21, aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, em que a noção de desenvolvimento, por muito tempo identificada ao progresso econômico, extrapola o domínio da economia através da sua integração com as dimensões social, ambiental e institucional. A Agenda 21 tratou também do consumo sustentável, dedicando o Capítulo 4 ao tema: “Mudança dos padrões de consumo”, objetivando a promoção de novos padrões que reduzam a pressão no meio ambiente e atendam às necessidades básicas da humanidade, direcionando o consumo ao desenvolvimento sustentável. A biosfera é base do desenvolvimento sustentável e, com isso, o homem deve respeitar os limites da natureza ao explorá-la. Os recursos naturais são a base fundamental para o desenvolvimento econômico e social, sendo que desenvolvimento sustentável significa que o desenvolvimento sócio- econômico permanece sustentado por sua base, que é a biosfera. Assim sacrifícios da natureza, utilizados para o destaque na economia a curto prazo ou para interesses sociais, podem tornar-se destrutivos para a própria economia e sociedade, a longo prazo.
A produção e o consumo de bens não podem desrespeitar a capacidade ambiental, porque quando ela é agredida, os outros fatores também despencam. Os princípios elaborados pela Comissão Brundtland tratam da sustentabilidade forte, baseada no uso dos recursos renováveis conforme sua taxa de reprodução e, dos não renováveis, através da gestão econômica e de sua substituição por bens renováveis.
Diante disso, a insustentabilidade do processo de produção e consumo significa que esse processo não respeita a capacidade ambiental, que degrada os recursos naturais, retira grande quantidade de matéria-prima da natureza para transformá-la em bens supérfluos e que logo serão descartados. Além disso, não preserva a qualidade ambiental e de vida para as futuras gerações, não sendo apenas a economia verde o que poderá tirar a sociedade da crise.
No livro A História das Coisas, é  retratada a cadeia de produção e consumo e as externalidades ambientais negativas ocultadas durante o processo. Traz dados para demonstrar que o sistema atual é insustentável e que o planeta está sendo destruído em prol de valores consumistas. Os bens que são produzidos envolvem diferentes etapas: extração, produção, distribuição, consumo e destinação dos resíduos. O que se destaca em todas essas fases são os problemas envolvidos e que são ocultados da população em geral, que só vê o momento da compra do bem e o depósito na lixeira fora de sua casa.
A primeira etapa, extração, é extremamente poluente e socialmente degradante, pois as áreas que contém os minérios a serem extraídos são “reviradas”, gasta-se muita água, polui-se rios, o solo é contaminado, os trabalhadores são explorados e têm atividades insalubres. Como nos países ricos não se admite tal exploração, ou até mesmo porque as fontes de recursos já se esgotaram, a extração é feita em países de terceiro mundo, onde as leis são mais flexíveis, não há controle governamental rígido, os salários são baixos e as matérias-primas abundantes.
A segunda etapa é a produção, que envolve também a exploração de trabalhadores e a degradação ambiental, na busca do lucro por parte de quem está no poder, das grandes corporações e de governos exploradores. Os recursos que foram extraídos são transformados e a eles são acrescentados diversos materiais tóxicos, que passam desapercebidos pela população, devido a sua invisibilidade. Porém o ambiente é todo contaminado e a saúde de todos é afetada.
A terceira etapa é a distribuição, em que materiais de todas as partes do mundo são transportados para outras regiões. Exemplificando, metais são extraídos na África, materiais são produzidos na China, outras peças vêm das Américas para posteriormente serem comercializados nos Estados Unidos. Toda essa cadeia causa muita poluição, sendo os meios de transporte grande responsáveis por ela, como os cargueiros, que são navios que chegam a ter tamanho maior que campos de futebol, que emitem a mesma quantidade de CO2 que metade da frota de carros do mundo. Os aviões, que transportam 3% do comércio da Europa, são responsáveis por 80% da emissão de CO2. Além disso, os países de terceiro mundo são obrigados a se adaptar ao comércio, criando estradas, portos e aeroportos. Muitos já comparam as grandes multinacionais (que se instalam em diversos países de terceiro mundo) com os antigos colonizadores, pois só querem sugar o dinheiro do local.
Outra forma de distribuição que já vai se relacionar diretamente com a etapa do consumo é das grandes companhias varejistas. Nessa etapa os trabalhadores são explorados, não tem as devidas garantias de saúde e têm salários baixos. São usadas técnicas publicitárias para estimular o consumo; além da publicidade, que é cada vez mais invasiva, há duas outras técnicas: a obsolescência programada e a obsolescência percebida. Na primeira, os produtos são feitos para terem pouca durabilidade e, na segunda, ‘e afetado o próprio desejo do consumidor, por meio da moda, dos novos designs de eletrônicos e pelo estimulo ao sentimento de necessidade de aquisição de novos bens.
A fase do consumo é a única que a população enxerga, sem perceber que comprar mais coisas não é o que lhes trará mais felicidade, vão em busca de valores que não são os que realmente satisfazem o ser humano. Ao invés de usufruir melhor de seu tempo livre, ao invés de conviver com os outros, as pessoas têm se isolado e tentado satisfazer suas vontades individualistas por meio das compras. É urgente a necessidade de mudança na visão das pessoas, em sua percepção de mundo e dos sistemas em que vivem.
Por último vêm os resíduos gerados de forma intensa, sendo poucos deles reutilizados e reciclados. Todo trabalho tido desde a extração, produção e distribuição é jogado fora em pouco tempo, sendo um verdadeiro desperdício de materiais. Conforme pesquisa, nos Estados Unidos da América, os produtos comprados tem um tempo de utilização de aproximados 6 meses. Depois disso são encaminhados ou para aterros que ocupam grandes áreas ou são incinerados, liberando muitos poluentes. Os resíduos são, pois, o mais importante e o mais grave sintoma da ausência de sustentabilidade no uso dos recursos e, por isso mesmo, a primeira meta terapêutica se queremos um desenvolvimento que seja sustentável. 

Fonte: Flávia França Dinnebier

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