O desafio da adaptação climática


As mudanças climáticas já são realidade para diversas populações. Por isso, iniciativas de adaptação às alterações do clima são necessárias e urgentes nessas regiões. Porém, o que ocorre atualmente é que as nações que sofrem e/ou sofrerão impactos menos intensos já estão se preparando, enquanto aquelas mais vulneráveis não conseguem implementar estratégias para se adaptarem aos fenômenos climáticos.
Portanto, é urgente o apoio financeiro de países desenvolvidos às populações mais pobres e que vivem em áreas de risco.
A ONU calcula que seria necessário um investimento imediato de valores que varia entre US$ 50 bilhões e US$ 70 bilhões por ano. Já um estudo publicado  pelo Instituto Internacional para Ambiente e Desenvolvimento (IIED, sigla do inglês) e pelo Instituto de Mudanças Climáticas do Imperial College de Londres agosto de 2009 estima que os custos reais para adaptação podem ser de duas a três vezes maiores do que as estimativas da ONU.  Em setembro, o Banco Mundial divulgou que os gastos dos países desenvolvidos no auxílio à adaptação das nações em desenvolvimento devem ser entre US$ 100 bilhões anuais até 2050, ressaltando que o investimento geraria economia no futuro.
No cenário nacional, a região Nordeste é tida como a mais vulnerável devido aos seus problemas socioeconômicos e ambientais típicos do Semi Árido.Outro grave gargalo brasileiro é a necessidade da criação de bases para o estabelecimento de políticas públicas para essa agenda. Faltam recursos para fazer planejamento e estabelecimento de infra estrutura.
Outra deficiência reside na falta de estudos, pesquisas e mapeamento sobre as vulnerabilidades do país. As ações de adaptação previstas nas políticas públicas voltadas para as mudanças climáticas ainda são tímidos e inconsistentes. Um exemplo disso é que o Plano Nacional de Mudanças Climáticas possui apenas um artigo sobre as possibilidades de adaptação no Brasil.
Adaptar é preciso
Durante muito tempo acreditou-se que as ações de adaptação às mudanças climáticas – ajustes nas condições de alimentação (agricultura), de assistência à saúde, de moradia, e de infra estrutura para um convívio das sociedades com os fenômenos naturais decorrentes do aquecimento – fossem menos importantes do que as medidas de prevenção ao fenômeno.
No entanto, o ritmo acelerado e cada vez mais evidente com que as consequências da alteração do clima se manifestam – como verificado nas grandes enchentes em Santa Catarina, no calor extremo na Austrália, nas pequenas ilhas desaparecendo do mapa ou na crise mundial de alimentos, entre outros – mostrou que o investimento em adaptação é tão necessário e emergencial quanto as iniciativas para a redução de gases de efeito estufa e consequente mitigação do aquecimento global. ”Esses dois tipos de ação precisam ser implementadas conjuntamente, caso contrário não conseguiremos lidar com o fenômeno adequadamente”, afirma Márcio Santilli, coordenador de mudanças climáticas do Instituto Socioambiental (ISA).
Apesar dos riscos que o fenômeno oferece à população, é praticamente consenso entre os especialistas a visão de que as ações de adaptação implementadas ao redor do planeta estão muito aquém do necessário – particularmente nos países que mais sofrerão com os impactos da alteração do clima.
Mais atingidos, menos contemplados
Diversos estudos já demonstraram que o peso das consequências das mudanças climáticas recairá principalmente sobre os países pobres, justamente aqueles que dispõem de menos recursos financeiros e tecnológicos para investir em estudos e ações de adaptação.
Na prática, isso significa que as nações que sofrerão impactos menos intensos já estão se preparando, enquanto aquelas mais vulneráveis não conseguem implementar estratégias nesse sentido. “Só na baía de São Francisco, os Estados Unidos investiram mais de US$ 100 milhões em estudos de adaptação. Os países periféricos não devem ter gasto nem metade disso”, afirma o pesquisador do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Carlos Nobre. 

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