A Polêmica do Eucalipto


O assunto eucalipto costuma despertar paixões nos seus defensores e odiadores. O problema é o fato de muitos confundirem as coisas, e aí começa a polêmica. A plantação de eucaliptos tem que ser encarada como mera cultura agrícola, que em vez de produzir alimentos produz celulose e madeira principalmente.
Uma vez que é uma cultura agrícola como a soja, a cana e outras, precisa-se tomar diversas medidas para ser sustentável - cuidado com o solo, uso mínimo de defensivos, não ocupar áreas de reserva de vegetação nativa e toda a cartilha recomendada à agricultura moderna.
O eucalipto NÃO substitui em nenhum momento a vegetação nativa e áreas de proteção ambiental como matas ciliares, ele é uma árvore, mas não para isso. Quem o usa para essa finalidade está completamente errado. A vegetação ideal de um local é aquela pré-existente, a nativa, em todas as suas características selecionadas por eras.
Mas, para quem também diz a velha história que o eucalipto destrói o solo em poucos plantios, está equivocado. Basta lembrar da fazenda da Cia. Melhoramentos de papel nos arredores da Capital Paulistana, onde se planta o gênero australiano há mais de 100 anos e continua se cultivando sem maiores dramas.
O seu uso desde a época das companhias de estrada de ferro, tendo Navarro de Andrade como seu incentivador, salvou e salva da destruição milhares e milhões de hectares de mata e cerrado nativos que hoje não mais existiriam se não fosse por ele, dado nosso voraz consumo de madeira, lenha e papel. Isso sem falar na retenção do carbono pelo eucalipto por um bom tempo, quando usado para produção de madeira serrada.
Temos que separar as coisas: um uso é com finalidade agrícola, ok, outro como árvore substituta da nativa, não.
É bem verdade que a famosa polêmica do eucalipto ainda persiste, em algumas situações, exatamente como era na fase inicial do reflorestamento com espécies de rápido crescimento no País.
Naquele tempo, havia muita desinformação, e o folclore se alastrava. Chegou a ponto de se proibirem, por força de lei, novos plantios de eucalipto em alguns estados. Quantas frustrações e debates infrutíferos entre opositores e defensores em incontáveis seminários e congressos.
Quanto esforço desprendido para tentar mostrar que o consumo de água pelo eucalipto não era diferente do de outras espécies florestais. Como se essa informação fosse a chave para aplacar os ânimos e acabar com a controvérsia. Mas, a despeito de inúmeros resultados experimentais, ela não desaparecia, pelo contrário. E no entanto, em meio à alternância entre calmarias e ondas recorrentes de ataques ao eucalipto e à expansão de plantações florestais, o setor florestal produtivo do País cresceu e se fortaleceu, alcançando reconhecimento mundial. Na década de 1980, com algum atraso, o País notou o crescimento da preocupação para com o meio ambiente. E a polêmica não mais se restringia à questão da água, mas também a vários outros aspectos ambientais e sociais.
Depois veio a década de 1990, que pode ser caracterizada como a década em que o manejo florestal teve que se adequar aos preceitos de desenvolvimento sustentável emanados na reunião da UNCED, no Rio de Janeiro, em 1992. Essa adequação, todavia, sem dúvida, de fundamental importância ambiental e social, impõe mudanças paradigmáticas, que não são absolutamente difíceis do ponto de vista técnico, mas encontram enorme resistência nas pessoas.
Bem por isso, infelizmente, já é quase consenso no setor florestal a noção de que a expressão “manejo florestal sustentável” se tornou “muito desgastada”, como se costuma ouvir. É realmente uma pena. Venceu a ganância e a lei do menor esforço. Perdeu o meio ambiente. O conceito de manejo florestal sustentável, embora de difícil entendimento por parte de muitas pessoas que o consideram vago e nebuloso, na realidade, pode ser considerado uma das maiores ferramentas já concebidas pelo homem para auxiliar na necessidade crucial da convivência entre desenvolvimento e conservação ambiental.
E se trata de um conceito extremamente simples, que pode ser assim enunciado: a sustentabilidade é apenas um alvo para orientar a melhoria contínua das práticas de manejo. Esse alvo, por natureza, não é fixo, querendo, com isso, significar que não existem receitas. O conceito de manejo sustentável não tolera acomodação. O eucalipto realmente não seca o solo, mas florestas plantadas de eucalipto ou de outras espécies de rápido crescimento requerem muita água, e essa evidência é de fundamental importância ambiental, já que pode causar conflitos em algumas situações.
Assim, mais do que apenas saber quanto é o consumo de água pelo eucalipto, a nova ordem social e ambiental exige saber também como ocorre esse consumo, o que implica uma mudança de paradigma. No primeiro caso, o conforto que se obtém é o saber que esse consumo é igual ao de outras espécies florestais, ou, ainda, que ele não é maior do que a precipitação.
Mas isso não resolve o problema. Agora, quando o enfoque visa procurar saber se esse consumo pode ser suportado pela disponibilidade de água, então, evoluímos, já que o que está agora em jogo é saber se há água para a produção florestal e para todas as demais demandas, inclusive a demanda ambiental, aqui simplificadamente tida como a permanência dos fluxos de água superficial nas microbacias hidrográficas.
O fluxo de água referente à perda por evapotranspiração da floresta plantada é referido como fluxo de “água verde”. Já o fluxo de água que interessa para todas as demais demandas de água, que é a água superficial, é referido como “água azul”. 
O destino das chuvas em cada microbacia se dá por esses dois fluxos de água. Dessa forma, manejo sustentável, do ponto de vista da água, envolve desenvolver estratégias de manejo que garantam o equilíbrio entre esses dois componentes. Se a estratégia de manejo está consumindo quase toda a água que chega pelas chuvas, então não pode ser sustentável, pois está eliminando a água azul. Assim, a resposta que se procurou obter no passado, de que o eucalipto não seca o solo, já não serve mais, pois a pergunta agora é outra.
É preciso, agora, preocupar-se com o equilíbrio do balanço hídrico das microbacias hidrográficas, que é a escala natural para a avaliação dos efeitos da alteração da paisagem sobre os recursos hídricos. E esse balanço hídrico varia no tempo e no espaço. Ou seja, não há como prever ou teorizar. Temos que estar espertos o tempo todo. Como preceitua o conceito de manejo sustentável.

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